Cláudia Isabel é o exemplo de um artista popular

A colisão entre o seu carro, um Smart, e outro veículo ligeiro, ao quilómetro 85 da A2, junto a Alcácer do Sal, na madrugada do dia 19 de dezembro, acabaria por vitimar a artista de 40 anos. Claudisabel voltava sozinha de Castanheira de Pêra, onde tinha estado a atuar no “Domingão”, programa das tardes de domingo da SIC.”

Foi com dor que o nosso País recebeu a notícia do falecimento de uma pessoa com 40 anos. Mais do que artista, Claudisabel era uma mulher, uma portuguesa, que dignamente lutava pela realização do seu sonho: Ser cantora de música Portuguesa.

Gostos não se discutem

Sou Português com muito orgulho, mas custa-me muitas vezes pensar na nossa pequenez e pensarmos ser os maiores da cantadeira! Felizmente tenho a sorte de já ter saído muitas vezes do nosso retângulo e ter visitado países com culturas bem diferenciadas. Mas vamos à música!

Não sei se já vos aconteceu, chegarem a um determinado País e serem brindados com música no autocarro, nos táxis, nas salas de espera, nas ruas, seja onde for, com garbo mostram e divulgam aquilo que se faz no seu País.

Lembro-me de chegar a Angola há muitos anos atrás e ser brindado e bombardeado com o Quizomba, música a que não estava minimamente habituado a escutar e que depois de uma semana de “tamanha porrada” acabei por me deixar embalar naquela sonoridade e acabar por gostar.

De férias na República Dominicana, fui brindado, assim como todos no aeroporto, com o Merengue! Mais uma vez, música que não costumava escutar e após os primeiros cinco minutos olhei para o lado e todos estavam a dançar e abanar o corpo. Merengue foi a música escolhida durante aquelas férias e inclusive com grandes bandas a tocarem ao vivo em discotecas. Recordo-me do nome da Banda “El gordo”, vestidos com fatos de gala e com o som agreste dos metais. Uma banda composta por mais de 10 elementos em Palco a fazerem furor apenas com o Merengue!

Na Etiópia, a sonoridade é mais difícil de nos habituarmos, no entanto, ainda assim, a divulgação da sua música é completamente intensa nas rádios, televisões e nas discotecas. É aquela a música deles e não têm qualquer tipo de vergonha em a assumir!

Poderia dar mais uns poucos exemplos sobre este assunto, mas suponho que já cheguei onde quero chegar. Gostos não se discutem e não nos deveríamos  envergonhar com aquilo que somos e fazemos neste nosso recanto da Europa!

Música Popular é Pimba?

Seja ela Pimba ou não, a música Popular assume uma importância muito grande na vida em Portugal. Sempre que se fazem festas Populares, aquelas que temos como tradição efetuar, são estas músicas que esperamos escutar e não qualquer outra de cariz mais sofisticada (como por aí dizem!).

São muitos os artistas de música Popular existentes em Portugal, mas não têm vida fácil. Para levarem a sua música ao Público precisam de fazer das tripas coração. Viagens e mais viagens cujos custos são suportados pelos próprios, em troca de uma ou duas músicas em Playback num dos canais de Televisão. Já nas rádios, a muito custo, lá vão passando nas rádios locais e de preferência em horários pouco nobres de maneira a não incomodarem os seus ouvintes e as suas audiências.

Já vem sendo um hábito conquistado nas televisões Portuguesas, o preenchimento de música Popular nas tardes de fins de semana e como não abdicam deste formato, pode-se chegar rapidamente à conclusão de que o “share” resulta na perfeição.

As rádios Nacionais têm uma missão diferente. Divulgam a música de qualidade, aquela que vem de fora e que consegue entrar na playlist de alguém que se acha capaz de “aculturar” os ouvidos dos portugueses neste capítulo.

Vou-lhes propor um exercício que costumo fazer. Chegam à internet e procuram a letra da música Internacional que “esteja a dar” ou na “Berra”. Façam a respetiva tradução e tirem as vossas conclusões. Posso dizer-vos que em nada ficam á frente das letras das nossas músicas, apenas diferem na sua pronuncia, porque como somos portugueses, o que vem de fora é muito mais fixe!

Depois vem o problema inerente a tudo isto. Os produtores musicais Portugueses não são valorizados e apenas alguns, os com maiores conhecimentos, são alguém neste mundo.

Quanto às editoras, como podem constatar, têm a vida mais facilitada por agora. Já se dão ao luxo de reproduzirem músicas já prontas (editadas) vindas do exterior ou mesmo de pequenos estúdios caseiros Nacionais. Agora é assim! Se queres ser artista, grava a tua música e leva-a à editora para que eles te passem a fatura de x vezes a passagem nas rádios, x vezes surgimentos na televisão, x vezes entrevistas, etc!

Não me posso opor a todas estas situações, mas parece-me que o poder da comunicação, tão importante no mundo do artista, afeta e de que maneira a vida de milhares de pessoas que vivem desta industria musical. 

A comunicação tem assim tanto poder?

Claro que sim. É o poder de fazer a mensagem chegar a vários recetores. As redes sociais dão essa possibilidade, mas como nada é feito sem se pensar no lucro, as próprias redes socias tem custos muito elevados para a divulgação em massa.

O poder da comunicação é tão grande que até a brincarem com o ridículo tornam os artistas populares.

Desta forma fica provado que a comunicação social pode e deveria fazer um pouco mais pelos artistas nacionais musicais e não abusarem do poder que têm para denegrir o que de mau se vai fazendo. A pergunta fica no ar: Será que não existem artistas populares de nível para dignificar a música portuguesa? Vergonhoso o que esta gente da comunicação faz!

Vamos agarrar na música Portuguesa!

Um dos formatos musicais com maior êxito para as noites televisivas em todo o mundo!

O Programa “The Voice” é um dos programas televisivos com maior “share” em todo o mundo. Tudo em torno da música e das vozes dos seus concorrentes. Muitos deles chegam a lugares de destaque, mas poucos são aqueles que enveredam por este caminho com êxito.

A Televisão Portuguesa não possui qualquer programa de entretenimento musical cujo foco seja a criatividade e originalidade dos seus autores e produtores. O mundo artístico tem que viver da originalidade e não da semelhança com esta ou com aquele. O Festival da canção quase que atinge este objetivo, mas devido a interesses e falta de coragem por parte de quem dirige a nossa Televisão, reservam apenas um décimo do programa à intervenção da criatividade do Público em geral.

Um programa com este formato, faria não só o crescimento sustentado da música Portuguesa, como também de toda a sua estrutura de suporte. Os músicos, as vozes, as letras, os arranjos, os produtores, enfim… uma data de variáveis poderiam ser aqui movimentadas. Imaginem um programa deste tipo, utilizando como referência o “the Voice”, utilizarem um júri com os representantes de várias editoras. Imaginem em tudo o que poderia acontecer neste formato! Fica apenas a dica!

Adeus Claudisabel

Tanta conversa para chegarmos à triste conclusão que Cláudisabel apesar de se assumir como artista popular da música Portuguesa não conseguiu relizar-se de forma completa. Tudo fez para atingir os patamares de reconhecimento, mas infelizmente esse reconhecimento veio de toda a comunicação social quando nos deixou no passado dia 19 de dezembro. 

Claudisabel atuou em Mafra no 14 Mares no início da sua carreira e agradeço toda a sua contribuição na música Portuguesa. Estejas onde estiveres, vai em paz e com a consciência tranquilo por teres feito tudo aquilo que estava ao teu alcance!

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