Faltam ideias nos órgãos de Comunicação Nacionais

Andei pela internet à procura de informação sobre o problema da comunicação em Portugal. Deparei-me com uma apresentação interessantíssima de José Fragoso. Seria injusto da minha parte estar a destruir o texto da RTP de Isabel Caçorino e por isso mesmo vou transcrevê-lo na integra: 

 

“José Fragoso, antigo diretor de programas de televisão da RTP, esteve na Academia para falar sobre o significado, a criação e a gestão de formatos televisivos numa grelha de televisão.

Começou por explicar que o envelhecimento da população-alvo da televisão generalista torna difícil a alteração da grelha de um canal generalista. Este tipo de público gosta de programas de entretenimento sem legendas que dificultam a apreensão dos conteúdos, daí o sucesso de programas como as telenovelas ou o “Preço Certo”.

Ficámos a saber que existem dois tipos de grelhas televisivas: as verticais e as horizontais. Nas grelhas verticais, são transmitidos diferentes programas nos diferentes dias e horários da semana, isto é, a grelha da manhã de segunda-feira é diferente da grelha da manhã de terça-feira. Nas grelhas horizontais, são transmitidos os mesmos programas nos diferentes dias e horários da semana, isto é, a grelha da manhã de segunda-feira é igual à grelha da manhã de terça-feira. Na opinião de José Fragoso, a emissão de diferentes programas ao longo da semana atrai diferentes públicos fazendo por isso sentido verticalizar a grelha de programação à noite altura em que a percentagem de público é maior e mais diversificada.

Em Portugal existem três formatos televisivos principais: informação, telenovelas e talkshows.

A RTP sente que é seu dever desenvolver conteúdos de ficção cada vez mais variados e é por essa razão que promove workshops como o da Academia RTP em busca de talentos que traduzam e consigam colmatar as oscilações dos movimentos geracionais. Destes três formatos aquele que tem mais audiência nos canais cabo é o formato da informação.

E por falar em audiência… Existe uma diferença entre audiência, share e rating. Em televisão, o termo audiência refere-se ao número de pessoas em concreto que está a ver um determinado programa. O rating refere-se à percentagem de pessoas que se alcançou, tendo em conta um universo composto de quase 10 milhões de telespectadores, assim 1% de rating corresponde aproximadamente a 10 mil telespectadores. O share representa a quota do mercado do canal/programa, ou seja dos telespectadores que efetivamente estiveram a ver televisão num determinado período de horário ou emissão de programa que percentagem sintonizou determinado canal. Por exemplo, se o programa A teve 20% de rating significa que foi acompanhado por quase 2 milhões de telespectadores e se teve 20% de share significa que da totalidade de pessoas que estava a ver televisão naquele momento 20% viu o programa A.

Relativamente aos intervalo, estes, ao contrário do que acontecia há 20 anos, por exemplo, representam o chamado «tempo morto» em que um canal televisivo perde audiência para outro. Por essa razão, existe uma Entidade Reguladora da Comunicação Social que fiscaliza os horários e os tempos em que a publicidade é transmitida, não é de estranhar, por isso, que os canais emitam simultaneamente a publicidade. Os canais privados, porque com ela se financiam, têm 12 minutos de publicidade por dia enquanto a RTP tem metade.

Levantando um pouco o véu da História dos formatos televisivos em Portugal, em 1969 surgiu o programa de entretenimento “Zip Zip” que foi o primeiro talk-show com público em Portugal, ainda a preto e branco. Era gravado aos sábados no Teatro Villaret e transmitido às segundas-feiras à noite. Em 1977, surge o concurso “A Visita da Cornélia”, um formato português de grande sucesso. No mesmo ano, a RTP começou a transmitir em horário nobre “Gabriela”, a primeira telenovela brasileira a ser emitida em Portugal e que veio abrir um precedente do que é, ainda hoje, o maior sucesso de audiências na grelha televisiva portuguesa: a telenovela. Em 1981, aparece o primeiro programa a cores, “Sabadabadu”, um formato português de humor e em 1982 nasce “Vila Faia”, a primeira telenovela portuguesa. Em 1984, surge o primeiro formato estrangeiro (adaptado de uma ideia da televisão espanhola) de entretenimento familiar que alcançou um sucesso verdadeiramente estrondoso: “Um, Dois, Três”.

Foi em 1992, com o aparecimento das televisões privadas, que o panorama das grelhas e dos formatos televisivos começou a rumar em direção a um destino ainda hoje incógnito face à aceleração do progresso quer tecnológico quer social. Em 1993, o formato holandês do “Chuva de Estrelas”, da SIC, destronou, pela primeira vez, a RTP e o formato, também holandês, do “Big Brother” revelou-se, para surpresa de muitos, o grande líder de audiências em televisão no canal TVI que, por sua vez, destronou a SIC. E é com base na história do percurso dos formatos televisivos, não apenas nacionais mas também internacionais, que se procura hoje novos formatos sucesso de audiências.

Relativamente ao processo criativo de um formato há cinco aspetos importantes a ter em conta: a ideia, o público alvo, a mecânica do formato, a estratégia de grelha e o orçamento. 

Isabel Caçorino, academista

Fonte: RTP

Há poucos anos atrás tive a oportunidade de efetuar um curso de Tv e Rádio na World Academy em Oeiras. Uma experiência interessante e que me fez pensar de forma diferente daquilo que eu pensava sobre Televisão. Como este artigo já vai bastante longo, deixem-me apenas colocar-vos algumas linhas em consideração:

  1. Quantas pessoas assistem a cada um dos canais de televisão?
  2. Sabe quantos canais existem na grelha de programação?
  3. Quanto vale um minuto de publicidade e quantas pessoas são atingidas?
  4. Ser atingido é ter apenas a Televisão ligada?
  5. Será justo neste momento haver uma televisão Pública a confrontar-se com canais privados?
  6. Será justo haver Televisão ou órgãos de comunicação públicos?
  7. Os contratos milionários com as caras importantes da RTP serão necessários?
  8. O que queremos da nossa televisão Pública? Colmatar as deficiências de mercado e fazer a divulgação da arte Portuguesa?
  9. Porque temos de pagar uma taxa?

 

São muitas as perguntas que se poderão fazer sobre esta temática, mas ouvir este senhor importante da comunicação que existe um défice de ideias na televisão Portuguesa é de ir às lágrimas. Défice de ideias não existirá certamente, porque “ideotas” está este Portugal cheio. Vou apenas dar-lhe uma pequena ideia: preocupem-se mais com a cultura e com a valorização das pessoas e das associações deste País em detrimento do fazerem aquilo que os outros fazem. Sejam criativos na programação e larguem-se das algemas das audiências, shares e ratings. Promovam o que é nosso e não se envergonhem daquilo que temos por cá.

 

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