A Árvore de Natal, em Portugal, é uma tradição importada da Alemanha, onde parece ser consensual estar a sua origem, ou pelo menos a forma mais aproximada daquilo que fazemos com ela hoje – embora outros países tenham ritualizado esta época do ano através do enfeite de árvores, seja na Polónia, na Geórgia, na Estónia, na Letónia, e nos países escandinavos de uma forma genérica, de resto, neste último caso, havendo uma grande conivência com os costumes germânicos.
Como é fácil de ver, a Árvore de Natal em pouco ou nada está relacionada com o nascimento de Cristo – nesse aspecto, a versão cristã do Natal tem a sua representação no presépio, aparentemente mais adoptado como forma de comemoração do período natalício português até aos inícios do século XX, depois do processo de cristianização ibérica.
A decoração de uma árvore no mês Dezembro é, portanto, um gesto mais longínquo, remontando ao tempo de outros Deuses, esses pagãos – tal qual como acontece com os muito portugueses Madeiros da noite da Consoada, especialmente recorrentes no interior do país.
Porquê um Pinheiro de Natal?
A escolha do pinheiro, contudo, causa algumas dúvidas.
Há a hipótese de que, no início, tenha sido o carvalho a espécie Divinizada – o que terá especialmente sentido se a olharmos pela lente de um germano, que via no carvalho um espelho de Thor, Deus do Trovão das gentes do norte europeu (convém realçar que, mesmo por cá, o carvalho é tido como mágico).
No entanto, o pinheiro, enquanto substituto ou mesmo como pioneiro nesta celebração, pode ter sido adaptado pela sua resistência aos meses sombrios – é uma árvore primaveril, mesmo nos dias mais rigorosos do ano, mantendo o seu verde vivo ao longo do tempo, funcionando assim como metáfora perfeita para o retorno da natureza ao seu lado solar.
O embelezamento da Árvore de Natal era feito, já nesses idos séculos, por pequenas alumiações e objetos redondos, numa clara alusão ao astro, hábito que foi perdurando até ao presente. Era também frequente vermos frutos pendurados nos galhos, como nozes ou maçãs pintadas, numa ponte simbólica com o fim da esterilidade da terra.
Ainda mais óbvio, hoje em dia, é a colocação da estrela no seu topo (isto apesar de algumas lendas tentarem cristianizar a coisa, nomeadamente enunciando a estrela de Belém que guiou os Reis Magos) – mesmo que inconscientemente, qualquer católico que inadvertidamente coloque a estrela no topo do seu pinheiro, está a ter um gesto pagão, ou não é o sol a estrela central do nosso quotidiano?
No fim, torna-se sugestivo que, nas casas do ocidente, haja um símbolo cristão – o presépio -, e um símbolo pagão – a Árvore de Natal. E digo sugestivo porque é uma boa alegoria do que o ocidente é nos dias que correm: um cruzamento de crenças vindas do paganismo com outras, ora recentes, ora adaptadas do passado, de vinco cristão.
Ao colocar-se o menino Jesus deitado nas palhas de um presépio, e uma estrela no pináculo de uma Árvore de Natal, estamos a sublinhar dois nascimentos, isto é, dois natais: o de Cristo e o do Sol, sendo que o primeiro veio convenientemente substituir o segundo.