No dia 16 de Novembro de 2022 o meu pai fazia 84 anos de idade. Infelizmente no dia anterior ao seu aniversário acabou por fechar os olhos e adormecer para sempre.
Todos nós somos bafejados por coisas boas e más durante a nossa vida e são nestes momentos que “alguém superior a todos nós” repõe o equilíbrio. Bons e Maus, Ricos e Pobres, Raças e origens diferenciadas não fazem prevalecer em nada na hora da despedida. E ainda bem que assim é!
O mundo avançou muito rapidamente nestes últimos anos e a tecnologia (ciência) vem dando respostas cada vez mais às perguntas que subsistiam em continuar. No entanto ainda não conseguimos responder para onde seguimos viagem ou se a última paragem é mesmo ali no “quintal das tabuletas”.
A esta dúvida, respondemos todos nós com a Fé! Aquela Fé que dá resposta ao desconhecido, ao vazio, àquilo que todos queremos ouvir e ficarmos confortados. Espero bem que sim e não acredito que assim não seja. Também tenho a minha fé, mas não a de seguirmos o caminho das pedras desta ou daquela religião. Afinal de contas, estou numa situação de crença na ciência, mais do que naquilo que desconheço e que me vem sendo “vendido” por entrepostas pessoas, cujo exemplo deixam muitas vezes a desejar.
A única certeza que tenho é o aumento considerável da “esperança de vida”. E este aumento, por mais que não o queiramos admitir, nada tem a ver com qualquer que seja “o Deus” por nós amado.
Já facilmente atingimos idades de 80 e 90 anos e com alguma saúde. Mas esquecemo-nos de olhar para a “qualidade” em detrimento da “esperança”. O que me interessa morrer aos 100 anos se a perda de qualidade de vida for considerável desde muito cedo?
Não estou bem nem mal...estou uma merda!
Quando me desloquei ao Lar Varandas da Malveira, depois da alta hospitalar, perguntei-lhe se estava bem, tendo-me respondido: Não estou bem nem mal. Estou uma merda!
Ninguém deveria desejar a morte a ninguém. Esta é uma dádiva que nos deram e orgulhosamente teremos de a viver com as ferramentas de que dispomos. Mas estou a falar do meu Pai. Um homem cheio de vida e de confiança e cujas características lhes foram retiradas há dez anos atrás. Começou por pequenas mazelas até que estas se tornaram maiores do que ele. A sua vida ficará na memória de todos aqueles que com ele a partilharam. Quero apenas lembrar-me das boas memórias e por vezes não é nada fácil separar o trigo do joio. O seu fim foi sereno e tranquilo e quero acreditar na minha Fé de que ele partiu em paz e descansado. Eu estou tranquilo e em paz também.
Na segunda-feira recebi um telefonema da minha irmã a dar-me a notícia, Não posso afirmar de que não estava à espera de mais tarde ou mais cedo isso acontecer, mas o que realmente não estava à espera era de não estar preparado. O mundo desabou e fiquei sem apoio de uma forma instantânea.
O meu pai tinha saído do hospital há quatro dias. Quando me deram a informação nesse sentido fiquei estupefacto. Como será possível ele sair neste estado? Responderam-me que estava curado em relação ao motivo pelo qual tinha sido internado. Uma pneumonia. Lá foi ele encaminhado para a sua nova residência na Malveira e após quatro dias, acordou, tomou o pequeno almoço e foi chamado para o “outro mundo”.
Com 84 anos de idade poderei dizer que ainda era novo, mas o que não poderei afirmar é de que a sua qualidade de vida era a melhor. Ninguém deveria passar os seus últimos dias, semanas ou anos sem esta qualidade com a que devemos urgentemente preocuparmo-nos.
Cabe-me agradecer aos muitos telefonemas, mensagens, redes sociais, flores, gestos, palavras e às presenças de todos vós neste dia triste da minha família, mas convicto de que a superação da dor se fez de forma mais fácil com toda a vossa ajuda e apoio.
Muito Obrigado.